HARLEM CARVALHO
HARLEM CARVALHO
09/01/2015
11:46
Veja novo texto de Dr. Harlem Carvalho

Colegas Médicos,

Estamos vivendo nos últimos 14 meses sob intenso processo de críticas, desconstrução e graves acusações por parte do Governo, repercutidas pela maior concessionária pública de comunicação do País, sem o devido espaço ao essencial contraditório.

A classe médica brasileira foi mal comparada aos paramédicos cubanos pela Presidente da República na ocasião do lançamento do programa "Mais Médicos". Ela afirmou categoricamente que seus hermanos adotivos eram mais carinhosos com os pacientes que seus (ex)compatriotas.

Nossa mais alta autoridade, com suas "expertises em Economia e Energia" atestadas pelos "bons" rumos que o Brasil junto com a Petrobras estão seguindo, deve ser uma profunda conhecedora de Saúde para tirar esta conclusão.

Em seguida fomos surpreendidos, junto com outros profissionais protagonistas da Saúde, com uma campanha oficial eivada de viéses, possivelmente psicografada de Joseph Goebbels, gênio da bem sucedida propaganda nazista, afirmando que havia racismo no SUS contra afrodescendentes. Entre outras barbaridades, a peça publicitária difamatória dizia que o tempo da consulta de negros seria mais curto do que o de outros brasileiros. Gostaria de saber qual desenho deste inovador experimento, que conseguiu ser preciso na cronometragem das entrevistas e determinação do genoma dos pacientes nos tumultuados e caóticos ambulatórios do sistema público pelo País.

Em 4 de janeiro de 2015, foi ao ar uma longa reportagem que fazia denúncia contra uma "Máfia de próteses". Apesar de comprida, não houve tempo para o representante do Conselho Federal de Medicina (CFM) dizer que este antiquíssimo e do conhecimento geral da Nação problema é combatido com rigor pela previdente Autarquia. A matéria, de modo subliminar, passou à população a falsa idéia de "médicos" formavam quadrilhas para ganhar fortunas com as aludidas peças, deixando de focalizar também todos os outros profissionais não médicos envolvidos, que ganham muito mais com este crime. Mais grave ainda, não tiveram a necessária preocupação em passar ao público de senso crítico pouco desenvolvido que os bons médicos são vítimas também desta fraude indiretamente.

Na semana seguinte o belicoso e autoritário Ministro da Saúde, em alinhamento com núcleos de interesse da saúde suplementar (generosos e notórios doadores de campanha política) impõe o modo como as mães deverão dar à luz daqui para frente na rede privada. Pergunto de cunho institucional: não seria esta uma atribuição do Diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ? Esqueci que o Órgão regulatório virou apêndice sem a necessária autonomia do Ministério da Saúde há 12 anos. Não seria a própria gestante, baseada na sua autodeterminação e na orientação médica, critérios personalíssimos, a ser a figura determinante para se decidir qual a via do parto. De mais valor seria se o Ministro, suposto especialista em Saúde pública, se dedicasse um pouco a combater a sífilis congênita que aflige os recém-nascidos de gestantes pobres e às péssimas condições sanitárias das maternidades públicas.

Está por vir outra matéria televisiva extemporânea, para chover no molhado, sobre "Máfia de stents e próteses valvares". Espero que a proselitista emissora deixe espaço para mostrar a face mais maligna da cirurgia cardíaca nos sucateados e insuficientes Hospitais públicos: a morte de cardiopatas nas filas esperando por vaga para a cirurgia redentora. 


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