Acho muito interessante quando ouço os comentaristas esportivos a avaliar os erros do Brasil no jogo de ontem.

Eles justificam: "Afinal, era final de jogo e todos sabem que o cansaço não deixa manter a concentração".

Vale lembrar que eles estavam a se referir a profissionais que recebem salários milionários apenas para trabalhar 90 minutos, no máximo 2 vezes por semana, e que não fazem outra coisa na vida do que serem muito bem pagos para fazer só aquilo. Que depois de uma partida são rodeados por uma equipe multidisciplinar dedicando a eles dietas personalizadas, massagens, tratamentos fisioterapêuticos, atendimento psicológico, e sem esquecer de lembrar acomodados com todo conforto em hotéis 5 estrelas e em um centro de concentração digno de reis e rainhas. No entanto a eles é permitido cometer erros primários como chutar uma bola há três metros de distância da trave do gol.

Traço um paralelo para nós médicos. Trabalhamos em péssimas condições de trabalho, eternamente sobre pressão, nos alimentamos pessimamente, vivemos eternamente em estado de vigília, e quando temos o direito de tirar um cochilo no trabalho somos alocados em locais sem nenhum conforto, até mesmo insalubres. E vale a pena ressaltar: somos pessimamente remunerados.

Por que temos que ser sempre perfeitos, precisos e infalíveis, se ninguém nos pergunta se estamos cansados, se estamos doentes, se estamos alimentados ou psicologicamente equilibrados?

Será que somos deuses ou semideuses para ficarmos imunes a todos os fatores externos?