Durante doze anos o país viveu com medo. E o mais terrível de todos os medos, o medo de ter ideias próprias e emitir opiniões. Amarrada num aparente consenso, cego e autoritário, qualquer manifestação de discordância dos donos do poder e de sua rede derivada de protegidos, beneficiários, defensores, comprados ou apenas militantes, era tratada a pancada. Qualquer matéria na imprensa que ousasse mostrar algum progresso do Brasil resultado do trabalho de alguém que não fosse do poder atual recebia uma avalanche de críticas. Alguém que por índole ou independência criticasse os donos do poder recebia em blogs, colunas, ou mesmo em matérias plantadas na grande imprensa, não críticas ou discordância às suas opiniões, mas a tentativa brutal de destruir a sua reputação e vida pessoal. Muitos foram alvo dessa estratégia torpe.
Como isso era possível? Os bons se interrogavam. Ai de quem se atrevesse afrontar o monopólio da verdade e do pensamento único, o preço era alto, em risco de perseguição e até de seu trabalho e sobrevivência
Não havia surpresa, era o manual universal da infâmia, tantas vezes usado em revoluções e perseguições, mas o país, entorpecido, nada percebia. Enquanto se acusavam os outros de corruptos se construía nos subterrâneos talvez a maior rede de corrupção que o mundo conheceu. Enquanto se atacava a liberdade de imprensa, montava-se uma rede de comunicação muito bem paga que fabricava matérias, que eram comentadas por outros também pagos, que ao comentarem já transformavam o boato em fato, e por fim uma rede de militância virtual, também paga, viralizava tudo, fazendo da internet a central de destruição de honras e reputações. Seguindo A cartilha de Lênin, xingava-se o adversário do que eles próprios eram, e acusavam os outros do que eles mesmos faziam.
E o que está fazendo o Brasil acordar? Primeiro a grandeza de nossa sociedade, que apesar de ser massacrada diariamente como machista, homofóbica, racista, elitista, e até estupradora, se descobre vítima de uma tentativa de amordaçamento, para que derrotada em sua auto estima, possa ser dócil ao poder, aceitando passivamente seu jogo de dominação. O Brasil descobriu que ainda preza a liberdade, que a igualdade deve ser de oportunidades e direitos, mas que as conquistas pessoais tem que se dar por mérito, que o coitadismo só favoreceu privilégios, que o controle da imprensa é um truque para silenciar a liberdade de expressão, e , surpreso, o país se redescobriu admirando valores tradicionais como verdade, honestidade, ética, família, religião, justiça, democracia, meritocracia e liberdade. Atingido esse estágio, o reino da fantasia e da mentira necessariamente tinha que ruir.
Poderia usar vários exemplos do povo que perdeu o medo, mas vou usar o de uma médica de Natal, no RN. Ela postou no facebook que andando num supermercado com sua camiseta amarela de protesto contra Dilma, notou o olhar de ódio de uma pessoa e se interrogou como essas pessoas não se indignavam quando viam camisetas estampadas com fotos de Che Guevara, Fidel, Lênin ou Mao, entre outros. Todos, que além de matarem desapiedadamente milhões de adversários, que discordavam de suas ideias, mataram companheiros e correligionários aos milhares pelo simples fato de lhes ameaçarem o poder. Ela diz que passou em frente, orgulhosa de poder manifestar sua posição quanto ao momento histórico que estamos vivendo. A liberdade deve ter sorrido nessa hora. O Brasil perdeu o medo.
Para finalizar, a Federação Nacional dos Médicos, reunida em Brasília, essa semana, conclamou seus Sindicatos e os médicos de todo Brasil a participarem das manifestações públicas da sociedade e sugeriu entre os temas - A Corrupção faz mal à Saúde.
Todos às ruas, então.