HERALDO ROCHA
HERALDO ROCHA
10/07/2013
08:00
Faltam investimentos e gestão e não médicos

É absolutamente demagógico o programa Mais Médicos, anunciado pelo governo federal, que prevê a contratação de mais profissionais para atendimento em áreas carentes - inclusive de estrangeiros -, além de aumentar a formação de medicina em dois anos, obrigando os estudantes a trabalharem no SUS durante esse período, remunerados por uma bolsa. Porque, o que falta não são médicos, mas investimentos em infraestrutura e uma melhor gestão do serviço público para termos mais saúde. Isso é senso comum.

Não posso deixar de avaliar essa medida como médico que sou e com anos de experiência tanto à serviço da Medicina como da vida pública, portanto, conheço os dois lados dessa moeda. Tenho que concordar com as entidades de classe quando consideram que as medidas anunciadas assumem altos riscos porque não observam a cautela imprescindível ao exercício da boa medicina, principalmente contratando estudantes para prestar atendimento.

Além disso, a vinda de médicos estrangeiros sem aprovação no exame de revalidação de diploma (Revalida) e a abertura de mais vagas em escolas médicas são medidas irresponsáveis porque comprometerão a qualidade do atendimento nos serviços de saúde e, em última análise, exporão a parcela mais carente da sociedade a riscos de um atendimento sem qualidade. Mas a quem afeta isso? Aos pobres e que, normalmente, não sabem de seus direitos e nem de onde reclamar.

Ainda assim, obrigar os estudantes a permanecerem mais dois anos “estudando” para servir ao SUS é mais uma medida demagógica. Porque devem ser penalizados a permanecerem mais dois nos numa faculdade para atender ao governo que não sabe gerir a sua máquina? Além disso, contratação dos médicos sem garantias trabalhistas expressas, com contratos precários e com uma remuneração não compatível com a responsabilidade e exclusividade, jamais poderão ser aceitas.

Além do mais, em qual ambiente esses médicos vão trabalhar? Esses médicos precisarão de outros médicos para supervisioná-los, já que não estão “formados”. E se faltam profissionais, como eles serão acompanhados e avaliados?
E de que adianta mandar milhares de médicos para o interior do país e aos rincões mais distantes desse Brasil se eles não tem estrutura? O médico precisa de uma base para fazer o atendimento, com hospitais, postos de saúde, equipamentos e outros profissionais de saúde. O médico não resolve o problema da saúde sozinho, sem ter uma estrutura compatível com a estrutura da profissão. É falta de gestão, repito mais uma vez.

Onde estão não tem as Upas (Unidades de Pronto Atendimento à Saúde) prometidas pelo governo federal nas diversas cidades para garantir o atendimento básico à população? Da promessa de campanha de construir 500 UPA’s em 48 meses, esse governo não conseguiu fazer nem um quinto em 30 meses de mandato. Foram entregues apenas 58 unidades com gasto de R$116,7 milhões, quando deveriam estar prontas 313 Upa’s com investimento de R$625 milhões nesses dois anos e meio de gestão, 18,6% do prometido. E, além disso, ninguém quer as UPA’s - como também não querem o SAMU - porque os municípios não tem como sustentar os programas.

Portanto, pelo que vejo, essa é mais uma medida visando apenas a alavancagem do péssimo desempenho do governo e da queda de popularidade do governo do PT. Esse é mais um programa para o governo tentar desviar o foco da sua irresponsabilidade com os desmandos nesse país. Querem dar uma satisfação aos brasileiros que questionaram os bilhões gastos desnecessariamente na construção de mais de uma dezena de estádios, enquanto não consegue implantar programas básicos de saúde, não constroem hospitais nem gerem bem as unidades de saúde, bem como acabar com a corrupção.

Assim como o plebiscito para a reforma política – já fadado ao esquecimento por ser irreal – essa é mais uma jogada de marketing eleitoral já visando a campanha do ano que vem. Mas felizmente o brasileiro acordou e está de olho nas medidas de fachada desse governo.


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