Ao imortalizar a Bioética no livro “Uma Ponte para o Futuro”, Potter não previu a extensão que essa área do conhecimento humano alcançaria. A importância universal veio do alerta feito pelo Clube de Pensadores de Roma e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a finitude dos recursos naturais e imperiosa necessidade de prover o desenvolvimento de forma sustentável. A sustentabilidade ultrapassou o cunho ecológico para ser entendida, atualmente, como uma forma ética de consumo.
A tecnologia, por sua vez, dedicou-se ao estudo de ferramentas capazes de dinamizar processos rotineiros da vida, constituindo objeto de desejo e recurso necessário ao aumento da produção. A substituição do homem por máquinas em tarefas mecânicas repetitivas não teve grandes resistências. Já as tecnologias emergentes de natureza cibernética, com atuação inteligente de robôs capazes de aprender através de redes neurais, trouxe enorme desconforto.
Em meio à bioética e à tecnologia, a democratização das informações e velocidade de mudança gerou tamanha fartura de oportunidades, que tornou possível encontrarem soluções diametralmente opostas e aparentemente corretas, para um mesmo impasse. Essa condição conhecida como dilema, acontece diuturnamente nas instituições de saúde, impulsionando discussões éticas e filosóficas que buscam compreender o que pretende a sociedade contemporânea. Para além dos desafios cotidianos, temos que buscar antever situações fronteiriças que testam limites como necessidade de proteção de dados enquanto o armazenamento pode acontecer até nas nuvens, demanda por interoperabilidade em meio a ataques de hackers, estreitamento dos vínculos com acesso cada vez mais remoto e imprescindibilidade de melhoria da comunicação independente da ferramenta de apoio utilizada.
Tudo isso trouxe ainda mais complexidade à relação médico paciente pela diversidade de atores cogentes com alta expectativa, tornando essa comunicação aparentemente simples, numa arte cujo domínio pode evitar a transmutação de dilemas em conflitos, evitando que agentes externos sejam convocados a propiciar o entendimento.
O primeiro dilema bioético e tecnológico, noticiado pela Revista Life, foi discutido pelo Comitê de Bioética Interdisciplinar de Seattle fundado pelo Serviço de Hemodiálise que não conseguia ter máquinas suficientes para atender a demanda, sendo forçado a estabelecer critérios de escolha. Hoje, vivemos a abundância de recursos tecnológicos e tememos que sejam abusivos, pasteurizando as relações humanas e enterrando a empatia que resistiu bravamente ao mercantilismo e a burocratização dos sistemas de controle.
Sabemos que o universo de informações que produzimos conhecido como big data, demanda ciência específica como depositária de dados que ora é fonte de consulta, ora é banco para produção de estatísticas, cuja velocidade de processamento é inviável ao cérebro humano e facilmente executável por processadores de alto desempenho. A ciência da Tecnologia de Informação e Comunicação já se desdobra na informática, domótica, burótica, robótica, manufatura aditiva, marchine learning e no aprendizado estruturado profundo do deep learning que alcançou a medicina na era digital ou 4.0. Certamente, uma imensidão de novos recursos continuará sendo criada numa velocidade cada vez maior.
Como os instrumentos não dispõem de bússola moral e carecem de personalidade jurídica, chegamos à clara conclusão de que a bioeticidade está nas escolhas dos operadores e programadores, que por elas devem ser cobrados. Não se pode transferir às máquinas, quando de sua utilização, a responsabilidade pelo exercício ético na atividade assistencial. Negar a infinidade de possibilidades que a Inteligência Artificial pode propiciar não nos parece o comportamento mais inteligente. A substituição do trabalho humano não se dará pela evolução da máquina, mas poderá advir da resistência em se adaptar às inovações inexoráveis e à mudança
Ao imortalizar a Bioética no livro “Uma Ponte para o Futuro”, Potter não previu a extensão que essa área do conhecimento humano alcançaria. A importância universal veio do alerta feito pelo Clube de Pensadores de Roma e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a finitude dos recursos naturais e imperiosa necessidade de prover o desenvolvimento de forma sustentável. A sustentabilidade ultrapassou o cunho ecológico para ser entendida, atualmente, como uma forma ética de consumo.
A tecnologia, por sua vez, dedicou-se ao estudo de ferramentas capazes de dinamizar processos rotineiros da vida, constituindo objeto de desejo e recurso necessário ao aumento da produção. A substituição do homem por máquinas em tarefas mecânicas repetitivas não teve grandes resistências. Já as tecnologias emergentes de natureza cibernética, com atuação inteligente de robôs capazes de aprender através de redes neurais, trouxe enorme desconforto.
Em meio à bioética e à tecnologia, a democratização das informações e velocidade de mudança gerou tamanha fartura de oportunidades, que tornou possível encontrarem soluções diametralmente opostas e aparentemente corretas, para um mesmo impasse. Essa condição conhecida como dilema, acontece diuturnamente nas instituições de saúde, impulsionando discussões éticas e filosóficas que buscam compreender o que pretende a sociedade contemporânea. Para além dos desafios cotidianos, temos que buscar antever situações fronteiriças que testam limites como necessidade de proteção de dados enquanto o armazenamento pode acontecer até nas nuvens, demanda por interoperabilidade em meio a ataques de hackers, estreitamento dos vínculos com acesso cada vez mais remoto e imprescindibilidade de melhoria da comunicação independente da ferramenta de apoio utilizada.
Tudo isso trouxe ainda mais complexidade à relação médico paciente pela diversidade de atores cogentes com alta expectativa, tornando essa comunicação aparentemente simples, numa arte cujo domínio pode evitar a transmutação de dilemas em conflitos, evitando que agentes externos sejam convocados a propiciar o entendimento.
O primeiro dilema bioético e tecnológico, noticiado pela Revista Life, foi discutido pelo Comitê de Bioética Interdisciplinar de Seattle fundado pelo Serviço de Hemodiálise que não conseguia ter máquinas suficientes para atender a demanda, sendo forçado a estabelecer critérios de escolha. Hoje, vivemos a abundância de recursos tecnológicos e tememos que sejam abusivos, pasteurizando as relações humanas e enterrando a empatia que resistiu bravamente ao mercantilismo e a burocratização dos sistemas de controle.
Sabemos que o universo de informações que produzimos conhecido como big data, demanda ciência específica como depositária de dados que ora é fonte de consulta, ora é banco para produção de estatísticas, cuja velocidade de processamento é inviável ao cérebro humano e facilmente executável por processadores de alto desempenho. A ciência da Tecnologia de Informação e Comunicação já se desdobra na informática, domótica, burótica, robótica, manufatura aditiva, marchine learning e no aprendizado estruturado profundo do deep learning que alcançou a medicina na era digital ou 4.0. Certamente, uma imensidão de novos recursos continuará sendo criada numa velocidade cada vez maior.
Como os instrumentos não dispõem de bússola moral e carecem de personalidade jurídica, chegamos à clara conclusão de que a bioeticidade está nas escolhas dos operadores e programadores, que por elas devem ser cobrados. Não se pode transferir às máquinas, quando de sua utilização, a responsabilidade pelo exercício ético na atividade assistencial. Negar a infinidade de possibilidades que a Inteligência Artificial pode propiciar não nos parece o comportamento mais inteligente. A substituição do trabalho humano não se dará pela evolução da máquina, mas poderá advir da resistência em se adaptar às inovações inexoráveis e à mudança de paradigmas que de tempos em tempos acomete a humanidade.
*MAÍRA PEREIRA DANTAS é médica especialista em Clínica Médica e Terapia Intensiva, membro da Câmara Técnica de Terapia Intensiva, titulada em Medicina Coletiva e Administração em Saúde pela Associação Médica Brasileira, membro da Câmara Técnica de Gestão em Saúde, presidente do Comitê de Aconselhamento Bioético do Hospital Português, professora da Pós Graduação em Direito Médico pela Faculdade de Direito da UCSal e pós-graduada em Direito da Medicina pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.